Tudo passa
Tristeza... rio turvo em pleno estio
cortando o vale d’alma enlanguescida,
que andeja ao léu, sem rumo, sem guarida,
ferida e presa ao corpo por um fio.
E segue adiante e corre na descida,
formando lago fundo no baixio,
onde se escuta, da coruja, o pio,
tão lúgubre que não se esquece, olvida.
Águas sombrias, tenebrosas águas,
escuras, bem mais turvas do que as mágoas
que escapam pelos olhos inundados.
Mas tudo passa! O rio encontra o mar
onde se perde, sempre a se escumar,
nos véus das verdes vagas, rendilhados.
Edir Pina de Barros