sexta-feira, 31 de outubro de 2014

NOS TEMPOS QUE JÁ LA VÃO


“NOS TEMPOS QUE JÁ LA VÃO”


Conheci um dia um caminheiro idoso
Que o suor e o pó cobriram de sarro.
Numa fonte, de uma ânfora de barro,
Ele bebeu água com demora e gozo!

Neste escaldante mês de Outubro,
Feliz da gente que vive nos montes;
Tem ao seu dispor, em verde rubro,
A água das cisternas e das fontes.

No largo tanque aonde o gado vem,
Curvou-se depois, e lavou também
As mãos nodosas e o cavado rosto.

Bebeu ao sol nascente e ao sol-posto.
E tomando o cajado para se ir embora: 
“Que a paz esteja contigo a toda a hora”

Alfredo Costa Pereira

O AMOR ACONTECE


O AMOR ACONTECE


Deambulava alegre e esperançoso,
Por entre a multidão um certo amor,
Na procura de um peito acolhedor,
Amigo, solidário e carinhoso…

Em cada rosto, um ar desolador!
Um cabisbaixo olhar tempestuoso…
Descrentes de um futuro auspicioso,
Por um passado adverso e enganador!

Mas eis que num momento se cruzaram:
Uns olhos que de outros se encantaram
E ali ficaram presos frente a frente!

A seta que o cupido disparou,
Foi como um passarinho que voou,
Encantado nos olhos da serpente!...

José Manuel Cabrita Neves

O PRIMEIRO BEIJO

 

“O PRIMEIRO BEIJO”


Surgiu graciosamente a madrugada
Com luz colorida de purpúreo ensejo
De mulher pela primeira vez amada,
Mulher que deu o seu primeiro beijo!

Nesse dia deixaram cedo as ramarias
Largos bandos de cantadoras cotovias
Que acordaram logo cedo àquela hora
Para perceberem o segredo da aurora!

Seus cabelos eram como sol desfiado,
E embelezavam seu sorriso iluminado,
Com face de cristal onde o sol entrou!

Face que pude suster na minha mão,
E com um beijo de orvalho do coração
Eis que o nosso amor se manifestou!

Alfredo Costa Pereira

MIL ROSAS AO LUAR


“MIL ROSAS AO LUAR“


No meu jardim, de amores revestidas
Mil rosas perfumadas de luar,
Dando ênfase aos amores de outras vidas
Que algures se perderam por amar.

As musas ancestrais, noivas vestidas
Com rendas e bordados de encantar,
Ornaram meu jardim, que coisas lindas,
Que as rosas, noivas, musas sabem dar.

Orfeu tocou a lira e a sonata
Encheu todo o jardim de sons reais,
Que o céu se abriu em bênçãos em cascata.

As noivas a seus noivos se entregaram
Com dotes de candura, divinais
E as rosas por amor se desfolharam.

Abílio Ferradeira de Brito


https://www.facebook.com/abilio.ferradeiradebrito

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A LENDA

 

“A LENDA”


Há uma lenda que ainda flutua
Perpetuada na voz das cotovias; 
A água das fontes conta-a à lua,
Os astros dizem-na às penedias!

“Uma bela semente caiu dos ares
Rolando sobre nós num segundo;
E encontrou um chão tão fecundo,
Que connosco atravessou mares

Levando-nos por todo o mundo;
A semente eternamente floresce
Construindo jardins de quimeras!”

A lenda já tem muitas primaveras
Mas escrevo-a quando amanhece
Mantendo o nosso amor profundo!

Alfredo Costa Pereira

QUALQUER COUSA QUE TEM REAL PALADAR


Arte - Van Gogh - Quinces, Lemons, Pears and Grapes, Autumn 1887


QUALQUER COUSA 

QUE TEM REAL PALADAR


Verdes e ouros de essência tal, frutada,
Passeiam pincéis principados de vida;
Os que sabem decore os refinados
Gostos, tela que luz ventos alados.

Ledes campos dourados que bordam
Certas travessas, mesas de finesse,
Engravidam os lábios dos que as olham;
Tal é o talento, o coração não esquece!

Fermentados pasteis que certo artista
Degustou em clave sol e veem-se à vista
Desarmada, transpõem outro outono!

Qualquer cousa que tem real paladar,
Frutas da época ou não são os tons de amar,
Só a arte consagra e lhe concede o trono.

® RÓ MAR

DEITADO NOS RAIOS DO LUAR

 

“DEITADO NOS RAIOS DO LUAR”


Nas asas de um sonho,
Eu fiz rumo para o luar;
Mas fiquei pelo caminho
No meio do ar, risonho,

A ouvir os silfos sábios!
Gosto de assim sonhar
Ver o coração embalar
Na agitação dos lábios

Do meu amor, já se vê!
Lá cantava uma sereia,
Para os búzios da areia;

E sob estrelas redondas,
Deitado no luar à mercê,
Ouvia a voz das ondas!

Alfredo Costa Pereira

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

SONHO DE POETA


SONHO DE POETA


Sonhei a vida inteira ser pintor…
Mas não passou de um sonho, uma quimera…
Poder eternizar a Primavera,
Realçando na tela cada cor!

Pintar a Natureza, quem me dera!
Pintar a amizade e o amor!
Pintar o sofrimento e a própria dor,
E a saudade de quem já não se espera…

Mas quis o meu destino outra ventura,
Fazendo com palavras a pintura,
Na arte de exprimir o pensamento!

Tenho em vez de um pincel e uma paleta,
A alma de poeta e uma caneta,
Com que vou colorindo o sentimento!...

José Manuel Cabrita Neves

SUBIR NA VIDA


SUBIR NA VIDA


Nascemos a pisar o degrau zero,
Da escada que nos dão como futuro…
Caminho a percorrer agreste e duro,
Às vezes no limite, o desespero!

Cada degrau às vezes, é um muro,
A ser ultrapassado pelo esmero,
E uma voz interior que diz: eu quero!
Eu hei-de subir mais, eu aventuro!

Ali ao lado, alguém nasceu diferente,
Não sobe a escada igual a toda a gente,
Um certo elevador o apadrinhou…

Subir na vida a pulso é um diploma!
É das várias vivências uma soma!
É um sobrevivente que lutou!... 

José Manuel Cabrita Neves

AMOR OU POESIA

 

AMOR OU POESIA


O néctar dos teus lábios amacia
Os lábios meus, em cada beijo dado,
Cada momento doce de pecado
Transforma o nada em tudo, a noite em dia!

Saio de mim, feliz, enamorado,
Despeço-me do mundo onde vivia,
Faço do sonho a minha moradia
E apago de vez o meu passado…

Aspiro o teu cheiro a maresia,
Bebo tua frescura, inebriado
E contigo mergulho na magia!

Perguntam-me se estou apaixonado
Ou se tudo não passa de poesia…
Respondo: - Sou poeta e sou amado!

Carlos Fragata

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O PÃO ALENTEJANO

 

O PÃO ALENTEJANO


Rebuscando memórias do passado:
O “contrapeso”(1), lembro, era alegria,
Que sempre ao regressar da padaria.
Me saciava a fome esse bocado!...

O pão que o kilo certo não teria,
Era com um pedaço compensado
E às vezes, dava um kilo bem pesado,
Que muita falta em casa ele fazia…

Tudo se acompanhava com o pão!
A melancia, as uvas, o melão!
Azeitonas e até o pão sem nada…

As migas, a açorda e o gaspacho,
Que eram de se lamber o fundo ao tacho…
Mantendo a negra fome alimentada…

(1) - Bocado de pão para acertar o peso certo de um kilo.

José Manuel Cabrita Neves

ESQUINAS QUE ABASTECEM LARGAS RUAS!


Imagem - Bellissime Immagini


ESQUINAS QUE ABASTECEM LARGAS RUAS!


Amo sempre mais que a conta, defeito
Que me sobra de pequena, meu jeito,
Mais olhos que barriga, que fazer!?
O tempo dirá os sonhos que irão ser!

Vivo sempre o tempo que irá nascer,
Que me tem ao colo desde pequena,
E, passo os dias regalados, serena
Pelo presépio que é meu tão parecer!

Sou ser igual, equidistante e diferente
Aos quais que passeiam pela vida da gente;
Tenho as minhas ideias, não filosofias,
Esquinas que abastecem largas ruas!

® RÓ MAR

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

MEMÓRIAS

MEMÓRIAS


Da relação de amor que me deu vida,
Retenho eternamente na memória,
A sua luta às vezes tão inglória
E ao mesmo tempo nobre e aguerrida!

Só quem viveu de perto a sua história,
Conhece bem a guerra desabrida,
Pra dar comer aos filhos e dormida,
Ganhando aquela jorna irrisória…

Do nascer ao sol-pôr era o horário,
Do trabalho nos campos, um calvário!
Onde alguns frágeis corpos sucumbiam…

Um pão com azeitonas ou toucinho,
Um prato de batatas e um vinho,
Enganavam a fome, não comiam…

José Manuel Cabrita Neves

MINHA QUERIDA, FLORES DE QUÃO LAÇOS!


Imagem - Beautiful world. Nature, love, art.


MINHA QUERIDA, 

FLORES DE QUÃO LAÇOS! 


São singelas flores, minha querida,
Embrulhadas em refinada seda;
Tecida pelas camponesas da aldeia
Que penteiam corações que têm à ideia.

Níveas, tal a beleza que ais guardado,
De olho amarelo, que sou enamorado;
Escrevo nos teus olhos margaridas
A mais linda estória de nossas vidas.

São o símbolo de tais e quão segredos,
Os que ouso desnovelar ao teu lado
Pelo singelo abraço que une os namorados.

Letras que quero que sintas nos braços;
Reflexos de coração apaixonado,
Minha querida, flores de quão laços!

® RÓ MAR

ALENTEJO

 

ALENTEJO


Salpicada de lírios e poejo,
Salgada p’lo suor das mondadeiras,
Fecundada p’lo canto das ceifeiras,
É Mãe prenhe de pão, é Alentejo!

Queimada pelas tardes soalheiras,
Gente de tez morena, na qual vejo
O trabalho esforçado, o traquejo
De quem à terra deu vidas inteiras!…

Carriças, andorinhas e pardais
Dividem entre si essa riqueza,
Em agitadas danças matinais…

Terra plana, prazer da Natureza
Que se espraia nas ondas dos trigais,
Deslumbrada por ver tanta beleza!

Carlos Fragata

VASTEZA VÃ ESCORRENDO...

 

Vasteza vã escorrendo…


Vasteza vã escorrendo… ó pobres!...
Rosais de flores rubras, tristemente…
Às minhas mãos, desabrochando! Nobres…
Olhares de belas seivas, dolentes!...

Há muito pelos meus dedos, tombando...
Finas pétalas de sangue, preciosas...
Jazem sobre o meu peito em bando;
Por hortos noturnos, choram as rosas…

Vil vastidão que ora sempre deixais?!
Socalcos profundos, repletos ais;
Exaltadas, em mim, odes gigantes!..

Os meus olhos tristes e cansados,
Fulgidos de raros brilhos e fados,
Enxergam a nobreza de diamantes...

Helena Martins

AS OLIVEIRAS


“AS OLIVEIRAS”


Quando se ama, não é pela fala
Que mais se diz, mais se sente;
Porque quando a gente se cala,
É que fala o coração da gente!

Contemplo uma árvore velhinha
A qual volta e meia está em flor;
Penso, comparo-a à vida minha,
Parece a árvore do nosso amor!

Mal andávamos por este mundo,
Logo nos começamos a amar;
E um poço, quanto mais fundo,

Mais água, ele pode armazenar;
Há anos que tua alma me seduz,
A velha oliveira viu-nos vir à luz!

Alfredo Costa Pereira
 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A ESPERANÇA

A ESPERANÇA


Era uma vez na terra de ninguém,
Vivia solitária uma miragem,
Que se desvanecia pela aragem,
Na imaginação vinda do além…

Talvez, de um cavaleiro, fosse a imagem!
Talvez, pela armadura, fosse alguém,
Que há já muito se espera e que não vem,
Trazer a salvação e a coragem!...

Jovem, impetuoso, sonhador,
Quis ser do seu país o salvador
E contra o inimigo foi lutar!

A Esperança sentou-se à sua espera,
Olhos no horizonte da quimera,
Que em denso nevoeiro há-de voltar!...

José Manuel Cabrita Neves

O OUTONO PELO ALPENDRE DE UMA SÓ CALMA


Imagem - Viktoria Mullin Photography


O OUTONO PELO ALPENDRE 

DE UMA SÓ CALMA 


Quando o apagão surge há sempre um céu 
Azul que acolhe a vida, um só chilrear 
De alva luz, encolhe o temível breu; 
Universos, sustenidos de encantar! 

O Outono escreve pela pauta os mais belos 
Poemas, o coração teima escutar 
As letras musicadas pelos alvéolos; 
Que ventos, engenhos doces de amar! 

Linhas cor-de-rosa, que nem as penas, 
Revoando pelo céu, bicos de nova alma; 
Eis o sol das Primaveras de Atenas! 

O Outono pelo alpendre de uma só calma 
É diferente, traz anilhas de asas 
Múltiplas, alegorias em quão praças! 

® RÓ MAR 

MISTÉRIO


“MISTÉRIO”


Correram anos! Muita vez, a espaços.
Foi o acaso que por fim os escolheu,
Fazendo-os cruzar nos seus passos!
Adormecida, a fantasia dele resolveu

Dar-lhe um momento de mais audácia,
Onde meditou para a fitar mais a fundo.
E reconheceu, com tardia perspicácia,
Como o seu amor por ela era profundo!

E nesta faixa do quadro, a cor é o lilás,
Cor da saudade…o tempo não desfaz.
Juntaram-se com a cor do amanhecer!

Resta o futuro, mas não o queiram ver!
Futuro é um sonho muito vago, etéreo,
Não faz parte desta história, é Mistério!

Alfredo Costa Pereira