quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

FIM DE ANO




FIM DE ANO


 Fim de ano!... Faço nova retrospectiva
de tudo aquilo que eu queria e não fiz.
Pego um lápis... papel... lousa, meu giz
e esboço outra lista de forma negativa.

Ah! Eu sei que deveria ser mais positiva,
achar minhas pérolas... até alguns rubis;
lembrar de perigos que venci por um triz
e - com esta sina - ser mais compreensiva.

Fim de ano! Gostaria de poder esquecer
os desencantos... talvez esse pouco prazer
e ver a vida de um modo menos profundo.

Fechar o jornal com as feridas do mundo,
deixar a dor... todos os dramas para fora
e despertar com amnésia na nova aurora.

Silvia Regina Costa Lima

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

QUE UM DIA SEJA REAL LETRA DE BELEZAS!


Imagem - Bellissime Immagini

    QUE UM DIA SEJA REAL LETRA DE BELEZAS!

                                                                                                                                         
    Trago letra criva pelo coração
    Há tantos dias quantos os que tem o ano,
    Que prestes a findar, e eu não abro mão,
    Nem ouso beliscar, quiçá outro ano!

    Trago olhar resgatado ao mar, porão,
    Que ecoa tanto quanto as horas do dia,
    Que não finda, e eu escutando sua canção,
    Nem o quero lembrar, quiçá outro dia!

    Nada a dizer por ora, quanta demora!
    Quiçá um outro dia, os lábios sejam flora
    Vigente ao olhar mel, tal e qual outrora!

    Aqui me fico, num mar de incertezas,
    Jubilando a raiz de tais naturezas
    Que um dia seja real letra de belezas!

    ® RÓ MAR

UMA ESTRELA




UMA ESTRELA
(Noite de Natal)
 

A noite dos tempos desceu depressa
e tomou conta da linha do horizonte
cobriu mares, desertos e cada monte
escureceu fronteiras e toda travessa.

Uma estrela brilhou como promessa
com sua luz em forma de uma fonte
ligando o Céu e a Terra feito ponte
- ela tinha linda mensagem expressa.

Ela nos dizia - além de qualquer teoria -
que à partir dali haveria mais Harmonia
e nada mais (jamais) seria algo em vão!

Que uma doce criança estava a caminho
e nunca mais o ser humano seria sozinho
pois, um dia, Ela multiplicaria amor e pão.

Silvia Regina Costa Lima

JESUS BATEU À PORTA




" JESUS BATEU À PORTA "


Jesus bateu à porta, vai abrir,
A tua casa agora tem mais luz,
Jesus só pode vir por bom convir,
Abre depressa a porta ao bom Jesus.

Põe rosas a florir no coração,
Velas bem perfumadas no altar,
Redime-te com fé, pede perdão,
Porque Jesus não pode ai ficar.

Anjos em seu louvor estão cantando,
Trombetas e clarins ouço soando
O céu vestiu um manto de carmim.

A terra despertou engalanada,
À meia noite fez-se a alvorada
E o dia que nasceu não terá fim!

Abílio Ferradeira de Brito

NATAL


Pintura de Van Gogh


“NATAL”


Vejo pessoas lisonjear o mundo, e o vão prazer!
E por este quadro quando passo os olhos meus
Vejo o mundo em sombra, que se está a perder,
Negando a mui...tos o direito de viver, e dizer adeus!

Se essa gente observasse a angústia a instalar-se,
E ouvisse os gritos humanos, impossíveis de conter,
Como se um vinho feito de propósito para endoidecer,
Nos nervos malévolos das pessoas se entornasse!

E tudo isto adquire mais força e significado no Natal!
Na multidão, vemos folhas mortas ao abandono fatal,
Manifestando a sua dor sozinha e desgraçadamente!

Vejo tanta nódoa de lágrima hipocritamente vertida,
E choros verdadeiramente sentidos silenciosamente,
Que são dissimulado em riso, pela injustiça da vida!

Alfredo Costa Pereira

O PAI NATAL


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O PAI NATAL


Ansiosas e fartas de esperar, 
Pelas misteriosas prendas embrulhadas,
Aguardam pelas doze badaladas,
Hora do Pai Natal enfim chegar…

Alguém bateu à porta três pancadas,
Que logo a mãe abriu de par em par…
Em pânico e suspensas sem falar,
As crianças olhavam deslumbradas…

Meio alegres e meio amedrontadas,
A um canto encolhidas a espreitar,
Pareciam estar até desconfiadas…

Porém o pai natal ao tropeçar,
Deixou cair as barbas disfarçadas
E a inocência riu até fartar!...

José Manuel Cabrita Neves

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

MAR PORTUGUÊS




MAR PORTUGUÊS


Foste rota de clãs aventureiros,
A estrada da canela e do marfim,
Muitos pensaram que não tinhas fim…
Fomos, mar, no teu seio, os primeiros!

Levámos Portugal ao mandarim,
Levámos cientistas e negreiros,
Missionários, poetas, marinheiros,
Deportados, fidalgos, tudo, enfim…

Mostrámos novos mundos ao que havia,
Descobrimos as rotas do Brasil,
Vimos as terras de Santa Maria!

Absoluto Senhor de terras mil,
É hoje Portugal terra vazia,
Roubada pelas mãos de gente vil!

Carlos Fragata

O QUE PEDI AO PAI NATAL


Pintura de John William Waterhouse


“O QUE PEDI AO PAI NATAL”


Pedi ao céu as estrelas,
Às rosas pedi frescura,
Ao lírio a sua brancura,
Odor às violetas belas!

Ao mar sua cor azulada,
Á lua, sua luz prateada
Às aves, pedi o seu ar
E suas azas para voar!

Mas o carinho, ternura,
Esse calor de ventura
Do nosso oloroso amor,

Não foi preciso pedir:
Já me deste, bela flor
O teu coração a luzir!

Alfredo Costa Pereira

sábado, 20 de dezembro de 2014

NATAL NA MINHA ALDEIA




Natal na minha aldeia


Saudades dessa minha eterna aldeia
Perdida num recanto, lá no Minho
A natureza as vezes nos premeia
Fazendo-nos lembrá-la com carinho

Como era bom entrar, a casa cheia,
A árvore, os enfeites de azevinho
E na lareira o fogo que se ateia
Pra dar maior conforto ao nosso ninho!

O pai Armando, alegre, dava o mote
E toda a pequenada ia a reboque
Cantando com louvor ao Deus-Menino...

E quando a noite vinha, já sem luz,
Ansiosos esperámos Jesus
Co'as prendas para o nosso sapatinho!

José Sepúlveda

OUTROS NATAIS




OUTROS NATAIS


Tragam o meu Natal em que o Menino
Trazia prendas pobres e singelas,
Mas que recordo como coisas belas
E que aos meus olhos eram ouro fino!

Recordo que colava nas janelas
Um anjo de papel tão pequenino,
Que era no Natal um inquilino
Iluminado por pequenas velas.

Natal era quadra maravilhosa…
Apesar da pobreza que sofri,
Essa noite era bela, radiosa!

Devolvam-me a magia que perdi,
As noites de vigília respeitosa
Desse passado lindo que vivi…

Carlos Fragata

A NOITE DA CONSOADA


Imagem - autor desconhecido


“A NOITE DA CONSOADA”


Vinte e cinco de Dezembro. Inverno frio,
E no entanto a noite é linda e perfumada.
A luz fugiu, depois do sol ficar sem brio,
E longe vem ainda a luz da madrugada!

Na terra sentiu-se que a Meia-noite bateu. 
Na antiga Galileia, lá na terra da Nazaré 
No colo de Maria, o menino Jesus nasceu!
Para outros foi o Pai Natal lá na chaminé!

E quem nessa noite olhasse o firmamento,
Via as estrelas perderem nesse momento
O seu fulgente brilho, e a sua intensa luz,

Ante o clarão suave, a paz, a doce ternura,
A sublime magia, da luz mais bela e pura
Que irradiava, do Pai Natal, ou de Jesus!

Alfredo Costa Pereira


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

BRISA DE AMOR




Brisa de amor


No fundo do vale gelado contrito,
O ar que deleita sufoca no chão,
Então vem o sol, poderoso, erudito,
A brisa ele forma beijando o costão.

E flui nas encostas na forma de vento,
Enxuga as goteiras da lágrima triste,
Lavando a tristeza e o velho lamento,
E a noite retorna c’a pena enriste.

O sol que se deita no dorso da vida,
E dorme sereno a sonhar c’guarida,
Do beijo da brisa que espera o calor,

Refém da esperança resgata o sorriso,
E o tempo do tempo esperar é preciso,
E assim concretiza o fascínio do amor!

Elair Cabral

A NATUREZA EM FESTA


Pintura - Van Gogh 


“A NATUREZA EM FESTA”


No meio de uma alegre e verde floresta,
Passarinhos chilreavam, melros trilavam,
O vento dançava com árvores em festa
E as folhas no seu ritmo acompanhavam!

Em baixo um lago, espelho da Natureza
Refletia aos pares as flores de girassol,
Que pessoas dizem ser um grande amor:
Porque passam os dias virados para o sol

Sempre em atração, sem sentirem calor;
O sol nesse dia exibia uma grande beleza,
Irradiando alegria, doirando o panorama!

A festa foi noite dentro. A Natureza ama
Festejar o seu aniversário, com a sereia,
E com o som dos belos búzios da areia!

Alfredo Costa Pereira

RUBROS ROSEIRAIS…

 

RUBROS ROSEIRAIS…


Rubros roseirais! Em meu pobre peito!…
Pendendo... Mil rosas coradas, loucas!…
Seus perfumes exalados alto! Feito…
Mar de fogo, abrasando. Doidas bocas!...

- Quão frágil e bela, sois! Flor Amada!...
Eterna cor que esvai a noite calma...
Tão forte!... Em silêncio, devotada,
Ajoelha e reza aos pés da Minh ´alma!…

Riachos de luz vazando, claramente…
Serenos lagos floridos da mente,
Acendem a noite… encerram o dia...

Dos Céus, esclarecida a luz do Homem,
Enquanto todos os astros dormem,
Rasga a Estrela que cai de Poesia!...

Helena Martins

FLORES SILVESTRES




FLORES SILVESTRES


Matizado em tons multicolores,
Se estende deslumbrado o meu olhar,
Ao ver pelos campos fora o ondular,
Gerado pelo vento sobre as flores…

E neste colorido, imenso mar!
A Natureza mostra seus esplendores,
A inspirar a arte dos pintores,
Que sabem a beleza eternizar!...

São silvestres, as flores deste poema,
Sujeitas à dificuldade extrema,
Duma sobrevivência natural…

Entregues a si próprias, à nascença,
Sonham ter num jardim uma presença,
Onde nada e ninguém lhes faça mal…

José Manuel Cabrita Neves

terça-feira, 4 de novembro de 2014

O TEU CORPO MEU FLORAL


“ O TEU CORPO MEU FLORAL “


Eu quero plantar rosas nos teu seios,
Beijar todo o teu corpo sensual,
Colher goivos e lírios no teu meio,
Fazer desse teu corpo o meu floral.

Camélias e acácias de medeio,
No espaço do teu espaço divinal,
Tomar-te minha amada sem receio
Numa entrega de amor excecional.

Os cravos dos teus dedos eu tomar,
Teus brancos malmequeres desfolhar,
Sentir a f’licidade a efervescer.

Beijar essas papoilas dos teus olhos,
Esquecer o que foi vida escolhos,
Viver para te amar até morrer.

Abílio Ferradeira de Brito

NAMORANDO


“NAMORANDO”


Depois de um beijo no orvalho da manhã
Começaste a correr por todo o vale amor,
Com o teu suave volátil perfume de flor
Que a aragem leva e só o traz amanhã!

Lá se foi o teu belo aroma: perdi-o voou!
Não há frinchas nos muros nem no chão;
Pelas portas também o olor não passou,
E por cima de certeza que também não!

E foi para que o meu desejo te persiga,
Que te puseste a correr e a rir, rainha,
Pelos campos onde o loiro trigo espiga,
E onde verdeja alegremente a vinha!

Mas corre, corre por todo o vale em flor
Sobe aos pulos e às risadas a colina bela
Porque eu serei o caçador, e tu a gazela.

E depois, quando ficares bem cansada amor
Vou-te alcançar minha querida, amiga minha,
E ficarás em mim enlaçada minha rainha!

Alfredo Costa Pereira

sábado, 1 de novembro de 2014

ALJÔFARES DO MEU OLHAR JORRANDO...

 

Aljôfares do meu olhar jorrando...


Aljôfares do meu olhar jorrando…
Ó tristes pérolas luzindo a calma!…
Gota a gota, mil rubis pingando...
O doce brilho estarrecido - a alma!…


Entes jubilados... luares e véus... 
Vertendo! Débeis bocas de cetim...
Ó sons de flauta!… Mil anjos, enfim…
Descei!... ó mundo! tocai os Céus!…

Luzeiro etéreo vasto cosmo vaza…
Meu espírito esvaído, alado à asa,
Sobrevoará alto feito condor!...

Vivo e eterno como bola de cristal,
Brilhará no seio da verdade, tal…
Embora que seja tão fina a dor!...

Helena Martins

NOVA… MENTE…


NOVA… MENTE…


Eu quis ser a virtude, a perfeição…
Ser a sinceridade nua e crua,
E não o preconceito que atenua
E cerceia a verdade e a razão…

Eu quis ser uma voz que não pactua,
Com acto prepotente e submissão!
Nem com o amordaçar duma prisão,
Que a revolta interior mais acentua!...

Mas uma voz sozinha não é nada!
No meio da multidão fica abafada,
A remoer silêncios de emoção…

É preciso educar novos conceitos,
Separar qualidades dos defeitos,
Para enfim renascer outra nação!...

José Manuel Cabrita Neves

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

NOS TEMPOS QUE JÁ LA VÃO


“NOS TEMPOS QUE JÁ LA VÃO”


Conheci um dia um caminheiro idoso
Que o suor e o pó cobriram de sarro.
Numa fonte, de uma ânfora de barro,
Ele bebeu água com demora e gozo!

Neste escaldante mês de Outubro,
Feliz da gente que vive nos montes;
Tem ao seu dispor, em verde rubro,
A água das cisternas e das fontes.

No largo tanque aonde o gado vem,
Curvou-se depois, e lavou também
As mãos nodosas e o cavado rosto.

Bebeu ao sol nascente e ao sol-posto.
E tomando o cajado para se ir embora: 
“Que a paz esteja contigo a toda a hora”

Alfredo Costa Pereira

O AMOR ACONTECE


O AMOR ACONTECE


Deambulava alegre e esperançoso,
Por entre a multidão um certo amor,
Na procura de um peito acolhedor,
Amigo, solidário e carinhoso…

Em cada rosto, um ar desolador!
Um cabisbaixo olhar tempestuoso…
Descrentes de um futuro auspicioso,
Por um passado adverso e enganador!

Mas eis que num momento se cruzaram:
Uns olhos que de outros se encantaram
E ali ficaram presos frente a frente!

A seta que o cupido disparou,
Foi como um passarinho que voou,
Encantado nos olhos da serpente!...

José Manuel Cabrita Neves

O PRIMEIRO BEIJO

 

“O PRIMEIRO BEIJO”


Surgiu graciosamente a madrugada
Com luz colorida de purpúreo ensejo
De mulher pela primeira vez amada,
Mulher que deu o seu primeiro beijo!

Nesse dia deixaram cedo as ramarias
Largos bandos de cantadoras cotovias
Que acordaram logo cedo àquela hora
Para perceberem o segredo da aurora!

Seus cabelos eram como sol desfiado,
E embelezavam seu sorriso iluminado,
Com face de cristal onde o sol entrou!

Face que pude suster na minha mão,
E com um beijo de orvalho do coração
Eis que o nosso amor se manifestou!

Alfredo Costa Pereira

MIL ROSAS AO LUAR


“MIL ROSAS AO LUAR“


No meu jardim, de amores revestidas
Mil rosas perfumadas de luar,
Dando ênfase aos amores de outras vidas
Que algures se perderam por amar.

As musas ancestrais, noivas vestidas
Com rendas e bordados de encantar,
Ornaram meu jardim, que coisas lindas,
Que as rosas, noivas, musas sabem dar.

Orfeu tocou a lira e a sonata
Encheu todo o jardim de sons reais,
Que o céu se abriu em bênçãos em cascata.

As noivas a seus noivos se entregaram
Com dotes de candura, divinais
E as rosas por amor se desfolharam.

Abílio Ferradeira de Brito


https://www.facebook.com/abilio.ferradeiradebrito

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A LENDA

 

“A LENDA”


Há uma lenda que ainda flutua
Perpetuada na voz das cotovias; 
A água das fontes conta-a à lua,
Os astros dizem-na às penedias!

“Uma bela semente caiu dos ares
Rolando sobre nós num segundo;
E encontrou um chão tão fecundo,
Que connosco atravessou mares

Levando-nos por todo o mundo;
A semente eternamente floresce
Construindo jardins de quimeras!”

A lenda já tem muitas primaveras
Mas escrevo-a quando amanhece
Mantendo o nosso amor profundo!

Alfredo Costa Pereira

QUALQUER COUSA QUE TEM REAL PALADAR


Arte - Van Gogh - Quinces, Lemons, Pears and Grapes, Autumn 1887


QUALQUER COUSA 

QUE TEM REAL PALADAR


Verdes e ouros de essência tal, frutada,
Passeiam pincéis principados de vida;
Os que sabem decore os refinados
Gostos, tela que luz ventos alados.

Ledes campos dourados que bordam
Certas travessas, mesas de finesse,
Engravidam os lábios dos que as olham;
Tal é o talento, o coração não esquece!

Fermentados pasteis que certo artista
Degustou em clave sol e veem-se à vista
Desarmada, transpõem outro outono!

Qualquer cousa que tem real paladar,
Frutas da época ou não são os tons de amar,
Só a arte consagra e lhe concede o trono.

® RÓ MAR

DEITADO NOS RAIOS DO LUAR

 

“DEITADO NOS RAIOS DO LUAR”


Nas asas de um sonho,
Eu fiz rumo para o luar;
Mas fiquei pelo caminho
No meio do ar, risonho,

A ouvir os silfos sábios!
Gosto de assim sonhar
Ver o coração embalar
Na agitação dos lábios

Do meu amor, já se vê!
Lá cantava uma sereia,
Para os búzios da areia;

E sob estrelas redondas,
Deitado no luar à mercê,
Ouvia a voz das ondas!

Alfredo Costa Pereira

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

SONHO DE POETA


SONHO DE POETA


Sonhei a vida inteira ser pintor…
Mas não passou de um sonho, uma quimera…
Poder eternizar a Primavera,
Realçando na tela cada cor!

Pintar a Natureza, quem me dera!
Pintar a amizade e o amor!
Pintar o sofrimento e a própria dor,
E a saudade de quem já não se espera…

Mas quis o meu destino outra ventura,
Fazendo com palavras a pintura,
Na arte de exprimir o pensamento!

Tenho em vez de um pincel e uma paleta,
A alma de poeta e uma caneta,
Com que vou colorindo o sentimento!...

José Manuel Cabrita Neves

SUBIR NA VIDA


SUBIR NA VIDA


Nascemos a pisar o degrau zero,
Da escada que nos dão como futuro…
Caminho a percorrer agreste e duro,
Às vezes no limite, o desespero!

Cada degrau às vezes, é um muro,
A ser ultrapassado pelo esmero,
E uma voz interior que diz: eu quero!
Eu hei-de subir mais, eu aventuro!

Ali ao lado, alguém nasceu diferente,
Não sobe a escada igual a toda a gente,
Um certo elevador o apadrinhou…

Subir na vida a pulso é um diploma!
É das várias vivências uma soma!
É um sobrevivente que lutou!... 

José Manuel Cabrita Neves

AMOR OU POESIA

 

AMOR OU POESIA


O néctar dos teus lábios amacia
Os lábios meus, em cada beijo dado,
Cada momento doce de pecado
Transforma o nada em tudo, a noite em dia!

Saio de mim, feliz, enamorado,
Despeço-me do mundo onde vivia,
Faço do sonho a minha moradia
E apago de vez o meu passado…

Aspiro o teu cheiro a maresia,
Bebo tua frescura, inebriado
E contigo mergulho na magia!

Perguntam-me se estou apaixonado
Ou se tudo não passa de poesia…
Respondo: - Sou poeta e sou amado!

Carlos Fragata

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O PÃO ALENTEJANO

 

O PÃO ALENTEJANO


Rebuscando memórias do passado:
O “contrapeso”(1), lembro, era alegria,
Que sempre ao regressar da padaria.
Me saciava a fome esse bocado!...

O pão que o kilo certo não teria,
Era com um pedaço compensado
E às vezes, dava um kilo bem pesado,
Que muita falta em casa ele fazia…

Tudo se acompanhava com o pão!
A melancia, as uvas, o melão!
Azeitonas e até o pão sem nada…

As migas, a açorda e o gaspacho,
Que eram de se lamber o fundo ao tacho…
Mantendo a negra fome alimentada…

(1) - Bocado de pão para acertar o peso certo de um kilo.

José Manuel Cabrita Neves

ESQUINAS QUE ABASTECEM LARGAS RUAS!


Imagem - Bellissime Immagini


ESQUINAS QUE ABASTECEM LARGAS RUAS!


Amo sempre mais que a conta, defeito
Que me sobra de pequena, meu jeito,
Mais olhos que barriga, que fazer!?
O tempo dirá os sonhos que irão ser!

Vivo sempre o tempo que irá nascer,
Que me tem ao colo desde pequena,
E, passo os dias regalados, serena
Pelo presépio que é meu tão parecer!

Sou ser igual, equidistante e diferente
Aos quais que passeiam pela vida da gente;
Tenho as minhas ideias, não filosofias,
Esquinas que abastecem largas ruas!

® RÓ MAR

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

MEMÓRIAS

MEMÓRIAS


Da relação de amor que me deu vida,
Retenho eternamente na memória,
A sua luta às vezes tão inglória
E ao mesmo tempo nobre e aguerrida!

Só quem viveu de perto a sua história,
Conhece bem a guerra desabrida,
Pra dar comer aos filhos e dormida,
Ganhando aquela jorna irrisória…

Do nascer ao sol-pôr era o horário,
Do trabalho nos campos, um calvário!
Onde alguns frágeis corpos sucumbiam…

Um pão com azeitonas ou toucinho,
Um prato de batatas e um vinho,
Enganavam a fome, não comiam…

José Manuel Cabrita Neves

MINHA QUERIDA, FLORES DE QUÃO LAÇOS!


Imagem - Beautiful world. Nature, love, art.


MINHA QUERIDA, 

FLORES DE QUÃO LAÇOS! 


São singelas flores, minha querida,
Embrulhadas em refinada seda;
Tecida pelas camponesas da aldeia
Que penteiam corações que têm à ideia.

Níveas, tal a beleza que ais guardado,
De olho amarelo, que sou enamorado;
Escrevo nos teus olhos margaridas
A mais linda estória de nossas vidas.

São o símbolo de tais e quão segredos,
Os que ouso desnovelar ao teu lado
Pelo singelo abraço que une os namorados.

Letras que quero que sintas nos braços;
Reflexos de coração apaixonado,
Minha querida, flores de quão laços!

® RÓ MAR

ALENTEJO

 

ALENTEJO


Salpicada de lírios e poejo,
Salgada p’lo suor das mondadeiras,
Fecundada p’lo canto das ceifeiras,
É Mãe prenhe de pão, é Alentejo!

Queimada pelas tardes soalheiras,
Gente de tez morena, na qual vejo
O trabalho esforçado, o traquejo
De quem à terra deu vidas inteiras!…

Carriças, andorinhas e pardais
Dividem entre si essa riqueza,
Em agitadas danças matinais…

Terra plana, prazer da Natureza
Que se espraia nas ondas dos trigais,
Deslumbrada por ver tanta beleza!

Carlos Fragata

VASTEZA VÃ ESCORRENDO...

 

Vasteza vã escorrendo…


Vasteza vã escorrendo… ó pobres!...
Rosais de flores rubras, tristemente…
Às minhas mãos, desabrochando! Nobres…
Olhares de belas seivas, dolentes!...

Há muito pelos meus dedos, tombando...
Finas pétalas de sangue, preciosas...
Jazem sobre o meu peito em bando;
Por hortos noturnos, choram as rosas…

Vil vastidão que ora sempre deixais?!
Socalcos profundos, repletos ais;
Exaltadas, em mim, odes gigantes!..

Os meus olhos tristes e cansados,
Fulgidos de raros brilhos e fados,
Enxergam a nobreza de diamantes...

Helena Martins

AS OLIVEIRAS


“AS OLIVEIRAS”


Quando se ama, não é pela fala
Que mais se diz, mais se sente;
Porque quando a gente se cala,
É que fala o coração da gente!

Contemplo uma árvore velhinha
A qual volta e meia está em flor;
Penso, comparo-a à vida minha,
Parece a árvore do nosso amor!

Mal andávamos por este mundo,
Logo nos começamos a amar;
E um poço, quanto mais fundo,

Mais água, ele pode armazenar;
Há anos que tua alma me seduz,
A velha oliveira viu-nos vir à luz!

Alfredo Costa Pereira
 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A ESPERANÇA

A ESPERANÇA


Era uma vez na terra de ninguém,
Vivia solitária uma miragem,
Que se desvanecia pela aragem,
Na imaginação vinda do além…

Talvez, de um cavaleiro, fosse a imagem!
Talvez, pela armadura, fosse alguém,
Que há já muito se espera e que não vem,
Trazer a salvação e a coragem!...

Jovem, impetuoso, sonhador,
Quis ser do seu país o salvador
E contra o inimigo foi lutar!

A Esperança sentou-se à sua espera,
Olhos no horizonte da quimera,
Que em denso nevoeiro há-de voltar!...

José Manuel Cabrita Neves

O OUTONO PELO ALPENDRE DE UMA SÓ CALMA


Imagem - Viktoria Mullin Photography


O OUTONO PELO ALPENDRE 

DE UMA SÓ CALMA 


Quando o apagão surge há sempre um céu 
Azul que acolhe a vida, um só chilrear 
De alva luz, encolhe o temível breu; 
Universos, sustenidos de encantar! 

O Outono escreve pela pauta os mais belos 
Poemas, o coração teima escutar 
As letras musicadas pelos alvéolos; 
Que ventos, engenhos doces de amar! 

Linhas cor-de-rosa, que nem as penas, 
Revoando pelo céu, bicos de nova alma; 
Eis o sol das Primaveras de Atenas! 

O Outono pelo alpendre de uma só calma 
É diferente, traz anilhas de asas 
Múltiplas, alegorias em quão praças! 

® RÓ MAR 

MISTÉRIO


“MISTÉRIO”


Correram anos! Muita vez, a espaços.
Foi o acaso que por fim os escolheu,
Fazendo-os cruzar nos seus passos!
Adormecida, a fantasia dele resolveu

Dar-lhe um momento de mais audácia,
Onde meditou para a fitar mais a fundo.
E reconheceu, com tardia perspicácia,
Como o seu amor por ela era profundo!

E nesta faixa do quadro, a cor é o lilás,
Cor da saudade…o tempo não desfaz.
Juntaram-se com a cor do amanhecer!

Resta o futuro, mas não o queiram ver!
Futuro é um sonho muito vago, etéreo,
Não faz parte desta história, é Mistério!

Alfredo Costa Pereira

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O SONHO DO SONETO





    O SONHO DO SONETO


    Sonhei-me numa ponte sem saída 
    Rodeada pela terra e pelo mar 
    Com um horizonte para desbravar 
    E uma alma imensa muito retraída. 

    Ingénuo peregrino de partida 
    No tremular da luz a despertar 
    Pressenti minhas asas fraquejar 
    Neste destino exposto à minha vida. 

    Solicitei à musa o seu favor 
    E aos meus sentidos outras emoções 
    Destilando um prazer e um vigor. 

    Envolto na volúpia das paixões 
    Meus versos renasceram com fulgor 
    Fazendo-me acalmar as convulsões. 

    E eis-me aqui Soneto renovado 
    Num oceano com novas dimensões 
    E um outro poema agora sublimado! 

    Frassino Machado 

A FOLHA CAÍDA


A FOLHA CAÍDA


Eu sou aquela folha que tombou,
Ressequida e votada ao abandono,
Arrastada p’ los ventos do Outono,
Para longe da vida que habitou…

No chão ao frio e à chuva dorme o sono,
De quem já foi feliz, já vegetou!
Durante a curta vida em que abanou,
No ramo, entre o mês três e o mês nono…

Cada ser vivo é escravo da rotina,
Que a própria natureza lhe confina,
Tendo uma variante duração!

Mas no fundo, que importa se a vida,
É para alguns mais curta ou mais comprida?
Importante é vivê-la com emoção!...

José Manuel Cabrita Neves

domingo, 21 de setembro de 2014

PAZ E FELICIDADE


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PAZ E FELICIDADE 


Paz e felicidade são cesta de alfazema 
Recheada a amor, fragrância natureza! 
O abraço mestre ao universo, gente d’alma, 
Uma caricia de sorriso, beleza! 

São atitude, espiga que fortalece 
O mundo, que tão circunscreve ‘esse’ 
Que todos querem e muitos sonham, 
Arco-íris, a todas as estações amam! 

No rosto, estampado de sete cores, 
O espectro solar, níveo coração, 
Habitat de mil emoções, amores! 

No regaço, mãos serenas d’uma criança 
Que traz pelo olhar verdes, esperança, 
Ventos que solfejam vidas, união! 

® RÓ MAR 

MIL GOTAS D' ALMA...


Mil gotas d´alma…


Vasto! Magno! mar em meu peito paira,
Cinzelando. Puros topázios em chama, 
Ardente. Ímpia maré, soltando. Rara…
Jóia azulando tão fina dor. Fama!

Ah! espirito iluminado, triste, pobre!
- Que inquieto! Astuto, devora, ama;
Fadário à sorte ansiada, nobre; 
No delicado céu, devoto, flama!

Mutismos prateados, bem de mansinho,
Correndo, correndo... devagarinho,
Silenciando os veios da noite. Calma!...

Sons de harpa tocada, levemente,
Fazem cair sem piedade, vivamente,
Carpidos a luares. Mil gotas d´alma!...

Helena Martins

SAUDOSA LÁGRIMA


SAUDOSA LÁGRIMA


De neve os meus cabelos branquearam…
De rugas o meu rosto encarquilhou…
O olhar de atento ler quase cegou,
As mãos outrora fortes fraquejaram!

O corpo musculado definhou…
As pernas, de andar, já se cansaram!
As doenças da idade já chegaram,
Quase não dei pelo tempo que passou…

Supondo que amanhã não existia,
De justas ambições fiz cada dia,
Tudo o que o meu querer enfim sonhou!...

Olho agora para trás me revivendo,
Sinto no rosto a pele umedecendo…
E uma saudosa lágrima rolou!

José Manuel Cabrita Neves

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

CHUVA DE SETEMBRO 2014


“ CHUVA DE SETEMBRO
2014”


Chora o vento na tapada
Debaixo de uma aguada,
Nos ramos dos pinheiros
Batidos pelos aguaceiros.

Chuva fria, como a neve
Que não bate ao de leve,
Batendo forte na vidraça,
Sem leveza e sem graça!

Destroem-se as culturas,
Uvas já sem as videiras
Retirando vida às feiras!

Assim foi este Setembro
Perderam-se agriculturas
Mais pareceu Novembro!

Alfredo Costa Pereira

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O TEMPO

O TEMPO



O tempo que não tem princípio e fim,
Assiste a ver passar cada segundo,
No carcomido banco de um jardim,
Olhando na distância o fim do mundo…

Deixou pelo caminho algo de mim,
Desse eu que em mim existe e em mim abundo…
Mistura de diabo e querubim,
Um pobre aristocrata vagabundo…

Passou por mim, nos sonhos de criança,
Que apenas foram sonhos, foram esperança!
De quem ingenuamente acreditou…

Deixou marcas nas mãos e no meu rosto!
Foi alegria, lágrima e desgosto…
Foi tempo desta vida que passou!

José Manuel Cabrita Neves

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

EM PURA HARMONIA COM O UNIVERSO!


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EM PURA HARMONIA COM O UNIVERSO!


Sinto meus lábios doces, amanhece!
Meu corpo é pena que voa e estremece
Ao abraço que minha alma sonha, sal
Que invade o ventre e eis a efusão colossal!

Quanto olho, quanto sinto, nada penso,
Possuída pelo mundo que é quão imenso
Levito a brandura a sereno mar
E equaciono o poente pelo largo olhar!

Sinto meu corpo ébrio de tal visão,
Mente fixa ao horizonte e eu em rotação!
Plácido vulcão que eclode à imaginação.

Quando olho nem olho, algo sobrepõe,
Quando beijo, nem beijo, algo compõe!
Labareda de um mar sonho, o sol põe.

® RÓ MAR

NO SILÊNCIO DA NOITE


NO SILÊNCIO DA NOITE


No silêncio da noite, em que me escuto
E ouço da minh’alma os seus lamentos,
Liberto minhas dores e sofrimentos,
D’onde a minha existência é o reduto!

Ouço o choro da falta de alimentos…
Ouço a bala que mata e traz o luto…
Ouço a voz da violência do ser bruto…
Ouço vítimas de actos violentos…

Com lágrimas escrevo este diário,
Sobre este mundo mau e ordinário,
Que se auto destrói e abomina!

E nesta escuridão que me conduz,
Vislumbro ao longe a chama duma luz,
Que sai raiando atrás de uma colina!...

José Manuel Cabrita Neves

sábado, 13 de setembro de 2014

HOMENAGEM A TODAS AS MÃES

 

“HOMENAGEM A TODAS AS MÃES”


Saboreando a Natureza num velho caminho,
Passei por um cruzeiro de pedra carcomida.
Parei, e li o que dizia: ”À minha Mãe querida”
Em letras rotundas, cinzeladas com carinho!

O quadro é pequeno, mas foi grande a ideia;
Ao nascer das madrugadas, no romper do dia
Lá se vão instalar os piscos e canta a cotovia,
Após o canto dos rouxinóis à luz da lua cheia!

Este cenário é simples, singelo e comovente,
E eu percebi agora, porque é que tanta gente
Se enternece e chora, diante deste Cruzeiro:

É porque, quem já não tem Mãe, queria tê-la;
E os que ainda a têm, não querem perdê-la.
As Mães são para os filhos o mundo inteiro!

Alfredo Costa Pereira